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Prises
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Não é uma impossível “pátria palestina” o objetivo do proletariado palestino, mas a luta de classes que una os proletários acima das divisões nacionais
Que o povo palestino está destinado a não poder estabelecer-se em sua terra natal de forma pacífica e reconhecida por todos os outros Estados é algo evidente há décadas. Desde 1948, com a constituição do Estado de Israel, mas não do Estado da Palestina, esse destino era um dos mais prováveis. A grande maioria dos palestinos tornou-se proletária contra sua vontade, sendo progressivamente expropriada de suas casas, de seus campos, de sua “pátria”. Do ponto de vista da ideologia burguesa, este é um drama que só poderia ser resolvido reconhecendo aos palestinos um pedaço de terra onde viver e constituir seu próprio Estado independente. Mas, oitenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial imperialista, em que as grandes potências democráticas nunca consideraram o povo palestino digno de ter seu próprio Estado, sua própria “pátria”, sua própria classe dominante burguesa como quase todos os outros países; em que o enganaram com as declarações da ONU sobre o refrão “dois povos, dois Estados”, sangrando suas energias nos confrontos de guerra que viram os combatentes palestinos iludidos até mesmo pelos Países árabes “amigos”, que logo se mostraram tão inimigos quanto, se não piores, que os sionistas; após oitenta anos de ilusões e combates, os palestinos se veem despojados de tudo e privados de suas próprias vidas. Com a cumplicidade mundial de todos os Estados, a começar pelo mais democrático e mais massacrador de povos, os EUA, o Estado sionista e burguês-democrático de Israel está realizando seu grande sonho: devastar a terra ao redor dos palestinos, apoderar-se de suas terras, escravizar aqueles que escaparam dos bombardeios e garantir privilégios sociais, econômicos e políticos à população israelense, de acordo com os critérios clássicos de discriminação racial e religiosa.
O fato que o povo palestino é um povo sem pátria, e cuja maioria é constituída por proletários, poderia ser, porém, do ponto de vista proletário e histórico, um fato positivo. O proletariado é, por antonomásia, a classe sem pátria, mesmo quando a burguesia lhe propina o refrão de uma pátria comum: não possui meios de produção, não possui capitais e, acima de tudo, não possui o produto do seu trabalho, porque a riqueza que produz pertence exclusivamente à classe burguesa dominante, aos capitalistas que defendem esta realidade com o Estado e com as suas forças armadas. Os proletários palestinos, ou seja, a maioria da população palestina, mesmo que consigam cultivar algo em um minúsculo pedaço de terra, dependem totalmente do trabalho para os patrões israelenses ou da “ajuda” internacional que as várias potências imperialistas lhes concedem para salvar a face humanitária de que se revestem para encobrir os massacres sistemáticos em Gaza e na Cisjordânia. Os palestinos não podem esperar nada melhor de organizações políticas e militares como a ANP ou o Hamas, como anteriormente dos grupos que formavam a OLP, porque essas organizações se venderam desde o início às burguesias mais fortes, com interesses completamente opostos aos do proletariado palestino, que é utilizado, ora por uma, ora por outra burguesia, com o único objetivo de obter para si algumas privilégios e um mínimo de poder sobre ele, a fim de submetê-lo para sempre à exploração capitalista, extinguindo seu instinto de classe de se rebelar contra toda opressão, contra todo abuso.
O fato de que recentemente, na situação já desastrosa de Gaza, tenha havido manifestações contra o Hamas para que liberte os reféns israelenses ainda em suas mãos, na esperança de que isso faça cessar os bombardeios e a destruição por parte de Tel Aviv, denota certamente uma ruptura na relativa confiança que o Hamas conquistou nos quinze anos anteriores, uma ruptura determinada mais pelo desespero do que por uma oposição consciente e política. Mas, em plena guerra, em que a população gazawi não encontra refúgio em lugar algum e é obrigada por Israel a se deslocar continuamente do norte para o sul e vice-versa, porque em qualquer lugar é atingida, bombardeada, morta, faminta, o fim de Gaza e da Cisjordânia palestinas se aproxima.
A saída imediata e no futuro próximo para este verdadeiro extermínio programado, infelizmente para os palestinos, não é a seu favor. Ou são massacrados ou deixam-se deportar para algum país que concorde com os EUA e com Israel em acolhê-los, como acontece com qualquer resíduo industrial. Para Israel e seu maior protetor, os Estados Unidos da América – não importa se na Casa Branca estão sentados “democratas” ou “republicanos” – a Palestina histórica, embora reduzida e fragmentada, desenhada nos antigos mapas geográficos para o benefício dos estudiosos da história antiga, mais cedo ou mais tarde terá que mudar de nome; os sionistas já o cunharam há mais de um século: Grande Israel. Lembremos, de passagem, que a história sempre foi escrita pelos vencedores das guerras, que se encarregaram de mudar os nomes dos países, das montanhas, dos rios, dos mares e, naturalmente, das cidades, decretando também formalmente a modificação ou o cancelamento do passado. As populações indígenas que eram submetidas ao domínio dos vencedores também sofriam a laceração de suas identidades, de suas tradições, de seu passado antigo; às vezes, os antigos nomes eram mantidos, às vezes eram misturados com as novas línguas, mas, na maioria dos casos, desapareciam sob o rolo compressor dos novos modos de produção e das novas classes dominantes.
O recente episódio relacionado com o novo nome que Trump quer dar ao Golfo do México é revelador. O Golfo do México, cujo nome deriva da decisão dos navegadores e colonizadores europeus que descobriram o “novo mundo” (chamado América em homenagem ao navegador-explorador Amerigo Vespucci), deveria passar a se chamar, por vontade de Trump, Golfo da América – em homenagem à “nova era de ouro para os Estados Unidos” de Trump – como Trump o rebatizou oficialmente em 25 de janeiro passado. Uma oficialidade válida no momento apenas para os EUA; veremos quanto tempo levará para que os dois organismos internacionais competentes em matéria de nomes das massas de água do planeta (a Organização Hidrográfica Internacional, OHI, e o Grupo de Especialistas em Nomes Geográficos das Nações Unidas, GENUNG) aprovem essa mudança de nome, tornando-a oficial para o direito internacional, uniformizando os documentos náuticos e as denominações geográficas válidas em todo o mundo. Mas, além das questões legais e oficiais, permanece o ato imperialista por parte dos EUA com o qual Trump pretende mudar a história e a identidade, neste caso, de um golfo que desde 1540 é chamado de Golfo do México, anteriormente conhecido como “Golfo da Nova Espanha” em homenagem à descoberta do “novo mundo” pela coroa espanhola. Naturalmente, o governo mexicano não concorda com a mudança de nome do Golfo, e não apenas porque ele leva esse nome há quase cinco séculos, mas também porque a maior parte das águas do golfo, ou seja, 829 mil km², corresponde à zona econômica exclusiva do México, e os restantes 662 mil km² correspondem à zona econômica exclusiva dos Estados Unidos (1).
Entre os Estados Unidos e o México não há uma guerra, a não ser no plano comercial, como há entre Israel e o Hamas e todo o povo palestino. Mas outra questão coloca os EUA em conflito com o México: a imigração clandestina não só de mexicanos, mas de pessoas que fogem de todos os países da América Latina por razões de sobrevivência econômica, política e social e que, atravessando o México, tentam entrar nos Estados Unidos. Portanto, Trump pode continuar a chamar o Golfo do México pelo novo nome de Golfo da América, sabendo que isso vale apenas para a Casa Branca e sabendo que o que mais lhe interessa é subjugar o México aos interesses da economia dos Estados Unidos, objetivo para o qual – não tendo sido suficientes os acordos existentes até agora entre os dois Países – ele também lançou contra ele a pressão das tarifas. Na realidade, quer o Golfo continue a chamar-se Golfo do México ou passe a chamar-se Golfo da América, muito pouco mudará entre os EUA e o México: as grandes empresas americanas, especialmente as automotivas e de tecnologia, continuarão a explorar a mão de obra mexicana nas empresas localizadas no México, onde os custos de mão de obra são muito inferiores aos dos EUA, aproveitando ao mesmo tempo a vantagem de uma distância muito menor para o transporte de mercadorias em comparação com o Sudeste Asiático ou a China.
No caso de Israel e dos palestinos, as coisas são completamente diferentes. Aqui não temos massas proletárias e deserdadas que se deslocam do “seu” país para construir um novo futuro em outro país economicamente mais forte e socialmente “menos” repressivo do que aquele de onde fogem. Os palestinos pretendiam, e pretendem, continuar a viver e a desenvolver-se na sua terra e, nos anos 20 e 30 do século passado, revoltaram-se contra uma imigração judaica maciça desejada e apoiada pela Inglaterra, que tinha o Mandato imperialista de controlar, após a vitória na Primeira Guerra Mundial e o colapso do Império Otomano, uma parte dos países do Médio Oriente, entre eles a Palestina. Mas, desde o início, o imperialismo britânico impediu o movimento de autodeterminação palestino e usou contra ele a imigração judaica, que, mesmo assim, tinha origens históricas naquela terra. A situação dos palestinos mudou muito pouco com a Segunda Guerra Imperialista Mundial e com o seu fim; pelo contrário, com a constituição do Estado de Israel, piorou cada vez mais. Os acontecimentos históricos demonstraram que a burguesia palestina não foi capaz de transformar sua luta pela autodeterminação em uma verdadeira revolução nacional, para a qual, no entanto, arrastou consigo as massas camponesas pobres e os proletários palestinos, mas, ao confiar o sucesso de sua luta nacional ao apoio das burguesias dos outros países árabes e das potências imperialistas, decretou seu completo fracasso.
No mapa geográfico do território que outrora se chamava Palestina, as fronteiras entre o Estado de Israel e os territórios habitados pelos palestinos foram continuamente alteradas devido às múltiplas guerras que Israel travou contra os Estados árabes e contra os palestinos, tornando impossível a definição de um território unitário sobre o qual uma revolução nacional palestina pudesse erguer o seu próprio Estado. Não só nas últimas décadas Israel incentivou e protegeu seus colonos a se apropriarem gradualmente e à força de pedaços de terra, especialmente na Cisjordânia, de modo a impedir sistematicamente a formação de um território exclusivamente palestino, transformando a Cisjordânia, chamada de West Bank ou Territórios Ocupados, em uma espécie de queijo suíço cheio de colônias israelenses, mas nos últimos dias chegou a notícia da reproposta, por parte do governo Netanyahu, do antigo projeto israelense E1, ou seja, do corredor colonizado que ligará Jerusalém ocupada a Ma'ale Adumin (há 50 anos a maior colônia israelense fortificada na Cisjordânia) e daí ao Vale do Jordão. O projeto, compartilhado por todos os governos israelenses dos últimos quarenta anos, prevê a construção de 3.412 unidades habitacionais para os colonos; esse corredor será construído inteiramente em território palestino, do qual as diversas pequenas comunidades palestinas que o habitam e cultivam serão expulsas à força. Assim, Jerusalém ficará completamente isolada do resto da Cisjordânia, que será dividida em duas por esse corredor: ao norte ficarão Jenin e Nablus, ao sul Belém e Hebron. Bezalel Smotrich, ministro das Finanças israelense e expoente da extrema direita nacionalista, gabando-se do apoio de Netanyahu e Trump, declarou que este projeto «enterra a ideia de um Estado palestino».
A União Europeia, que teria interesse em pacificar toda a área para desenvolver ao máximo seus negócios e comércio com todos os países da região, continua a agitar a bandeira dos «dois povos, dois Estados», embora saiba perfeitamente que nem a UE nem os Estados Unidos irão impor a Israel a constituição do Estado da Palestina, pois tal imposição, dada a total discordância israelense, só poderia ser levada a cabo através de um ato de força militar; a UE e os Estados Unidos estão muito longe de entrar em guerra com Israel, pelo contrário, estão a apoiá-lo financeiramente, diplomaticamente, politicamente e comercialmente, e o lucrativo comércio de armamento e das tecnologias militares mais avançadas demonstra-o plenamente. Os verdadeiros objetivos destas décadas de massacres dos palestinos são: eliminar a possibilidade de um futuro independente para a população palestina, torná-la escrava dos interesses capitalistas e imperialistas que se entrelaçam no Médio Oriente, eliminar qualquer possibilidade de que uma radicalização dos grupos palestinos, gerada pelos contínuos massacres e pelo atual extermínio, possa encontrar uma saída organizada para enfrentar, mesmo com a luta armada, a tremenda opressão a que os palestinos estão sujeitos. Mas a operação militar especial que Israel vem realizando há 23 meses contra a população de Gaza não se limita aos bombardeios, às contínuas deslocações dos palestinos de uma zona para outra da Faixa e vice-versa; acrescentou-se também uma limpeza étnica através da fome sistemática das massas palestinas já exaustas, o amontoamento de centenas de pessoas nos raros centros da GHF (Gaza Humanitarian Foundation), onde é distribuída muito pouca comida e onde os palestinos são alvejados pelos disparos dos soldados e mercenários, o bloqueio dos caminhões que transportam água, comida, roupas, medicamentos, etc. e a destruição de todas as casas, de todos os abrigos: a desnutrição tornou-se a arma suplementar para eliminar não só a vida imediata dos palestinos, mas também a possibilidade de vida das gerações futuras, porque a desnutrição, levada a níveis superiores aos dos campos de concentração nazistas, tem consequências não só para as mães de hoje, mas também para seus filhos e os filhos de seus filhos. O ataque à capital Gaza City, onde se concentram mais de 1 milhão de palestinos, parece ser a última etapa da ocupação da Faixa por Israel; com a queda de Gaza City, também reduzida a um monte de escombros, os palestinos perdem também a última esperança de poder imaginar um fim menos horrível do que aquele que estão vivendo.
Responsável por tudo isso não é apenas a classe burguesa dominante israelense, mas também a classe burguesa dominante, sobretudo dos países da Europa e da América, enquanto a Rússia, a China, a Índia e sua associação chamada Brics demonstram não estar interessadas em um extermínio testemunhado pelo mundo inteiro. Quando o chanceler alemão Merz declarou há algum tempo que agradecia aos israelenses por fazerem o trabalho sujo que os europeus não podiam se dar ao luxo de fazer, ele apenas expressou o pensamento de toda a burguesia mundial, ou seja, aproveitar-se dos carniceiros israelenses que não só fazem de tudo para aniquilar o “terrorismo palestino”, hoje identificado com o Hamas, mas também procedem com métodos particularmente cruéis e brutais – alguns líderes europeus declararam, diante das câmeras, que massacrar dezenas de milhares de civis, em sua maioria mulheres e crianças,... “era demais”, “era inaceitável”, exceto continuar a armar até os dentes o exército de Tel Aviv e continuar a colaborar, através de suas universidades e instituições científicas, com as universidades e instituições científicas israelenses – para erradicar da Palestina toda a população palestina culpada de gerar continuamente massas de “terroristas”.
O que há de melhor, de fato, do que combater o “terrorismo palestino”, que renasce das cinzas a cada década sob outras siglas, com um terrorismo fortemente superior, com um terrorismo praticado pelo Estado israelense, por sua vez sustentado e apoiado em todos os planos pelo imperialismo terrorista mais poderoso do mundo, o americano?
Até agora, a classe burguesa, não apenas israelense ou americana, mas de todos os países, demonstrou e continua a demonstrar com fatos que defende seus privilégios, seu poder, seu sistema de exploração do trabalho assalariado, com todos os meios, e cada vez mais com meios militares e terroristas. A classe burguesa sabe, por experiência, que o perigo mais grave que pode correr não é o de uma guerra entre Estados imperialistas, nem mesmo o de uma guerra atômica, porque de uma guerra, mesmo atômica, ela conseguiria obter negócios e lucros, sem se importar com quantas centenas de milhares ou milhões de seres humanos seriam massacrados. A superdemocrática América não pensou duas vezes antes de enviar, em 6 e 9 de agosto de 1945, seus bombardeiros com bombas atômicas sobre os céus de Hiroshima e Nagasaki, assim como a superdemocrática Inglaterra não pensou duas vezes antes de enviar, entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, sua esquadrilha mortal de bombardeiros a Dresden, que foi arrasada com bombas explosivas e incendiárias (de fósforo). O ódio que a classe burguesa consegue acumular pelas classes burguesas inimigas não tem limites, mas, terminada a guerra, as respectivas burguesias “fazem as pazes” e voltam a fazer negócios juntas, à espera das crises seguintes que as levarão novamente a entrar em guerra.
O ódio que toda classe burguesa nutre, ao contrário, pelo proletariado, pelas massas cuja exploração lhe permite extrair mais-valia e, portanto, lucros, é um ódio histórico, um ódio profundo, um ódio natural, de classe, que se baseia em dois fatores sociais decisivos, o primeiro de caráter imediato e o segundo de caráter histórico: o primeiro fator é dado pelo fato de que, para obter mais lucros dos capitais investidos, os capitalistas devem explorar ao máximo a força de trabalho assalariada, levando essa exploração a condições de fadiga e perigo para a própria vida dos proletários, a limites que são continuamente ultrapassados – e isso explica por que quanto mais riqueza se acumula nas mãos dos capitalistas, mais se empobrecem e pioram as condições de vida do proletariado – o segundo fator diz respeito à luta de classes que, em determinadas situações históricas, o proletariado desenvolveu até a revolução antiburguesa e, portanto, anticapitalista, demonstrando não apenas que o poder político pode ser utilizado em favor das necessidades de vida e emancipação da maioria da população em todos os países do mundo, mas que esse poder político – que nós, comunistas, chamamos de ditadura do proletariado – é o único capaz de transformar a economia capitalista, na qual se baseia a sociedade burguesa, em economia socialista, fazendo com que toda a sociedade dê um salto qualitativo histórico da divisão em classes antagônicas para uma sociedade sem classes, uma sociedade de espécie, na qual o objetivo da produção não é o lucro capitalista, mas a satisfação das necessidades da vida social de todos os seres humanos.
Bem, as revoluções de 1848 na Europa, a Comuna de Paris de 1871 (a primeira experiência concreta de ditadura do proletariado), o Outubro de 1917 russo e a subsequente formação da Internacional Comunista, que todos os proletários do mundo viam como um farol da revolução proletária mundial, são a demonstração de que a luta de classes do proletariado está historicamente projetada para revolucionar todo o mundo capitalista e burguês. O que a classe burguesa perderia com a vitória da revolução proletária? O poder político, certamente, e, portanto, o Estado que centraliza a força militar em defesa de seus interesses de classe; além disso, perderia sua existência como classe dominante, como classe que se apropria de toda a riqueza social produzida pelo trabalho do proletariado: em poucas palavras, desapareceria da face da terra. O espectro do comunismo que assombrava a Europa de 1848, como lembrado pelo Manifesto do Partido Comunista de Marx-Engels, não desapareceu. A contrarrevolução burguesa, que se fortaleceu com o advento do stalinismo nos anos 20 do século passado, conseguiu marcar até agora uma continuidade do poder político burguês e antiproletário por cem anos. Isso dá à burguesia de todo o mundo a impressão de ser invencível, de poder exercer seu poder com toda a ferocidade de que é capaz, massacrando milhões de populações indefesas e destruindo o meio ambiente com seu sistema econômico desastroso, com o único objetivo de acumular lucros e capitais. Mas, do ponto de vista histórico, é uma impressão que todas as classes dominantes tiveram em diferentes épocas, desde a escravista até a feudal, e que a classe burguesa capitalista apenas herdou. O que surpreenderá a burguesia e semeará novamente o terror em seus círculos de poder, mais ou menos públicos, mais ou menos ocultos, será mais uma vez o renascimento do movimento revolucionário proletário, um movimento que não nasce por acaso ou pela vontade de algum “líder” visionário, mas da base econômica do próprio modo de produção capitalista, no qual se gera o antagonismo entre os interesses gerais da burguesia e os interesses gerais do proletariado, e não em “um único país”, mas em todos os países do mundo, embora com força e tempos diferentes. Resta o fato histórico de que a própria burguesia utiliza sistematicamente seu antagonismo de classe contra o proletariado em todos os países do mundo, o que não a impede de buscar métodos de gestão do poder que lhe permitam atrair para seu campo de interesses também parte ou grande parte das massas proletárias quando estas, depois de terem sofrido a derrota mais pesada e duradoura no terreno do confronto revolucionário, ficaram por muito tempo sem orientação política de classe, sem organizações de defesa econômica de classe. A derrota do proletariado que o stalinismo e suas ramificações subsequentes, adaptadas às tradições históricas e sociais dos vários países, infligiram em nível mundial, proporcionaram à conservação burguesa e capitalista décadas de vida, apesar de o desenvolvimento capitalista estar enfrentando – como previsto pelo marxismo desde seus primeiros passos – crises econômicas, financeiras, sociais e de guerra cada vez mais graves e profundas.
A ferocidade com que a burguesia israelense – hoje atuada por suas facções de extrema direita, em vez das de “esquerda” que a exerciam anteriormente – se lança contra a população palestina, usando como pretexto o “terrorismo” do Hamas, não é senão mais um exemplo de como a classe dominante burguesa, diante de crises econômicas e sociais cada vez mais agudas e temendo o renascimento do movimento proletário de classe, reage preventivamente na tentativa de sufocar qualquer pequeno germe de reação classista contido nas condições de vida cada vez piores das massas proletárias e proletarizadas palestinas. Não seja por acaso que sua reação à opressão mortal a que estão submetidos há mais de cem anos por parte do terrorismo de Estado de Israel e à qual respondem episodicamente com a arma clássica dos oprimidos – o terrorismo individual – não contagie as massas proletárias dos outros países árabes, ou mesmo o proletariado israelense, até agora unido na defesa dos interesses específicos de sua burguesia doméstica, que o atraiu para seu campo de defesa com privilégios econômicos e sociais que estão durando no tempo graças ao apoio dos Estados Unidos, interessados no fato de que o Estado de Israel não apenas se fortaleça, mas represente uma ameaça séria e superarmada para todos os países do Oriente Médio e do Norte da África, caso algum de seus governos pretenda se aliar às potências imperialistas adversárias de Washington. Em 20 de agosto, Trump fez uma declaração sobre Netanyahu na qual expressa o verdadeiro sentimento do imperialismo americano: Netanyahu é um bom homem, um herói de guerra, é como eu! Naturalmente, o extermínio da população civil de Gaza com o objetivo de se apoderar da terra onde vive há séculos para explorá-la da maneira mais adequada aos interesses comerciais israelo-americanos torna-se o meio necessário para encerrar uma etapa importante da solução imperialista da “questão palestina”. A seguir, a Cisjordânia...
Enquanto Trump se faz de “grande” em relação à guerra na Ucrânia, em conluio com seu digno companheiro Putin, no plano geral de fazer com que seus aliados europeus desempenhem o papel de belicistas com a ilusão de subjugar a Rússia às suas condições de “paz”, enquanto ele almeja o Prêmio Nobel da Paz, ele se dá ao luxo de se alegrar com as iniciativas militares exterminadoras de Israel que, além de tudo, está usando a repressão militar em Gaza e, em breve, na Cisjordânia, como campo de treinamento ao vivo para verificar os meios, as estratégias e os tempos mais eficazes para ocupar um território inteiro e destruir toda resistência. Os governos imperialistas, as grandes empresas de armamento e de tecnologias mais sofisticadas agradecem, enquanto fazem negócios às custas de milhões de seres humanos.
Tudo isso não desaparecerá rapidamente, não desaparecerá graças a petições e manifestações humanitárias, não desaparecerá graças ao “distanciamento” deste ou daquele governo, enquanto tudo permanece exatamente como está. Será a luta de classes que o proletariado deverá finalmente abraçar como sua única e decisiva luta contra toda opressão, toda repressão, toda guerra burguesa: a luta que tem como objetivo não um acordo entre potências imperialistas, não uma trégua mais ou menos longa enquanto se espera que a destruição e a repressão recomeçam, mas a unidade de classe entre proletários para que sua luta estimule a solidariedade de classe dos proletários de outros países, especialmente dos países imperialistas. Grande é a responsabilidade dos proletários dos países imperialistas e, neste caso, dos proletários israelenses: um povo que oprime outro povo nunca será um povo livre, afirmava Marx. Mas a liberdade de que fala o marxismo não tem nada a ver com a liberdade burguesa, porque esta última se reduz à liberdade de explorar as massas proletárias do mundo e os povos mais fracos do mundo, a liberdade de destruir e matar milhões de seres humanos com o único objetivo de fazer sobreviver o sistema econômico e político do capitalismo.
Os proletários voltarão a recuperar seu “espaço vital”, que nada mais é do que o terreno da luta de classes, o único em que é possível para todos os proletários do mundo se reconhecerem como força social e revolucionária, uma força, esta sim, invencível, porque a história está do seu lado, mesmo que hoje não se veja, concretamente, uma retomada, ainda que mínima, da luta de classes. À guerra imperialista mundial que as burguesias dos grandes países do mundo estão preparando, o proletariado, se não quiser se curvar para se tornar apenas carne para o matadouro, terá que reagir preparando sua guerra de classes. Os comunistas revolucionários, não importa se são poucos e estão presentes apenas em alguns países, trabalham hoje para esse amanhã.
21 de agosto de 2025
Partido Comunista Internacional
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