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Ucrânia um espólio que Moscou e Washington estão dividindo
Desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, já se passaram 3 anos e 9 meses. Essa guerra, que segundo Moscou deveria durar alguns meses, talvez um ano, tinha como objetivo oficial proteger as populações russófonas de duas regiões do Donbass, Luhansk e Donetsk, às quais Kiev, de fato, após a independência de 1991, após o colapso da URSS, nunca reconheceu seus direitos básicos de minoria, direitos que, após um longo período de conflitos sociais e armados, foram oficialmente prometidos nos acordos de Minsk (de 2014 e 2015). Na realidade, essas populações, exceto em alguns períodos em que alguns governos, como o de Yanukovych, tentaram estabelecer uma espécie de equidistância entre a OTAN-União Europeia e a Rússia, foram submetidas a opressão e repressão sistemáticas tanto por parte do governo central de Kiev quanto por parte das milícias neonazistas a serviço de Kiev (como as do «batalhão Azov»). Os separatistas pró-russos, sob o pretexto de que suas reivindicações de autonomia nunca foram atendidas, aproveitaram a operação Crimeia (sua anexação à Rússia em 2014) para declarar a constituição das repúblicas de Donetsk e Luhansk, apoiando-se na Rússia e prontamente reconhecidas apenas por ela.
Na realidade, o conflito entre as facções ucranianas pró-russas e as facções ucranianas europeístas e pró-ocidentais começou logo após a declaração de independência da Ucrânia de Moscou, intensificando-se no final dos anos 90 do século passado, quando as pressões ocidentais e da OTAN para trazer a Ucrânia para o seu campo se tornaram cada vez mais fortes e persistentes, até chegar às eleições presidenciais de outubro de 2004, que elegeram Yanukovych (antieuropeísta e «pró-russo»), mas foram suspensas pela Suprema Corte por suspeita de fraude e repetidas em dezembro do mesmo ano, dando a vitória ao concorrente Yushchenko (pró-União Europeia e pró-OTAN; os jornalistas definiram esse período como a «Revolução Laranja»), apoiado com grande força pelos Estados Unidos e pela União Europeia. Mas a crise política não se esgotou com a vitória eleitoral dos «laranjas»; nas eleições para a renovação do parlamento ucraniano (março de 2006), a vitória foi para o partido de Yanukovych, o que não agradou a Yushchenko e seus apoiadores euro-americanos. Assim, a turbulência política resultou em novas eleições parlamentares antecipadas, depois que o presidente Yushchenko dissolveu o parlamento; a maioria dos assentos foi para a coalizão laranja, que levou, em dezembro de 2007, Yulia Tymoshenko a se tornar primeira-ministra, criando assim um atrito contínuo entre a presidência de Yanukovych e o governo liderado pela europeísta Tymoshenko. Em 2008, a OTAN declarou que aceitaria no futuro o pedido da Ucrânia para entrar na aliança militar. Em 2010, as eleições presidenciais deram novamente a vitória a Yanukovych, derrotando Tymoshenko, que entretanto se tinha candidatado à presidência e que, por malversação de fundos públicos (relacionada com um fornecimento de gás natural, assinado com a russa Gazprom, considerado particularmente oneroso para a Ucrânia), foi condenada a sete anos por abuso de poder. Os fortes protestos pró-europeus contra o presidente Yanukovych, instigados e financiados pelos euro-americanos, aumentaram a tensão no país quando o presidente ucraniano, em 2013, suspendeu o acordo de associação entre a Ucrânia e a União Europeia que teria aberto um aumento do comércio entre os dois, mas teria prejudicado o import-export entre a Rússia e a União Europeia devido à concorrência das mercadorias ucranianas, especialmente agrícolas. Questões de ordem econômica, assim, se entrelaçavam com questões de ordem política e militar pelas quais a Rússia, devido à pressão ocidental para capturar a Ucrânia na OTAN, teria perdido completamente sua influência sobre um país fronteiriço estrategicamente vital para Moscou.
Em novembro de 2013, as grandes manifestações do movimento «Euromaidan» em Kiev se opuseram à recusa de Yanukovych em assinar o acordo com a União Europeia e protestaram veementemente contra o governo pró-russo, acusando-o de corrupção. Manifestações e protestos, nos quais as milícias paranazistas tiveram um papel importante, foram apoiados e incentivados à rebelião pelos EUA e pelos europeus, a ponto de provocar uma dura repressão por parte do governo, que causou dezenas de mortos e centenas de feridos. Em fevereiro de 2014, Yanukovych, agora isolado até mesmo pelo exército, fugiu para a Rússia, e um pró-europeu, Yatsenyuk, foi nomeado chefe do governo. A Rússia denunciou que o que estava passando por uma «revolução» era um golpe de Estado militar e, apenas um mês depois, invadiu e ocupou a Crimeia, povoada em sua grande maioria por russos ou de etnia russa. No mesmo período, com o apoio da Rússia, também as regiões do Donbass Oriental, Luhansk e Donetsk tentaram sair do controle político e territorial de Kiev, provocando uma repressão sistemática por parte do Estado ucraniano contra elas.
A turbulência social e política na Ucrânia, que surgiu alguns anos após sua independência de Moscou, acabaria por culminar no conflito armado entre os separatistas do Donbass e Kiev já em 2014; portanto, a guerra que opôs as burguesias ucraniana e russa começou bem antes da invasão russa de fevereiro de 2022.
O QUE A RÚSSIA PRETENDIA OBTER DA UCRÂNIA?
Certamente sua neutralidade em relação à OTAN e, naturalmente, também em relação à União Europeia, que, para todas as ex-repúblicas soviéticas, uma vez independentes de Moscou, significava possuir uma espécie de passaporte para se tornarem membros da OTAN. Em segundo lugar, ter a possibilidade de co-gerenciar ou gerenciar diretamente a florescente economia mineradora e agrícola que, especialmente nas regiões do sudeste, a Ucrânia sempre representou. Além disso, Moscou estava certamente interessada em ampliar o controle das costas do Mar Negro, do Mar de Azov a Odessa, para o tráfego marítimo (comercial e militar) que, através dos estreitos do Bósforo e dos Dardanelos, liga o Mar Negro ao Mediterrâneo. Controle e exploração imperialista dos territórios do sudoeste russo: essa é a questão.
O QUE A UCRÂNIA QUERIA, DEPOIS DE DERROTAR A FACÇÃO PRÓ-RÚSSA POR PARTE DA FACÇÃO EUROPEÍSTA E PRÓ-AMERICANA?
Agarrar-se à União Europeia para usufruir dos privilégios econômicos e comerciais num dos mercados mais ricos e importantes do mundo; aumentar não só o comércio, mas também o intercâmbio tecnológico, militar e espacial com as potências imperialistas de primeiro plano, como as da Europa e da América; e colocar-se sob a égide da OTAN para se proteger da Rússia, considerada o inimigo n.º 1, a quem não se pode permitir o controle do Mar Negro. Controle e exploração imperialista dos territórios ucranianos em favor dos oligarcas ucranianos e dos imperialistas euro-americanos que os apoiam: essa é a questão.
Obviamente, o alcance desses objetivos por ambas as partes dependia do andamento da guerra que, desde fevereiro de 2022, sofreu uma aceleração inevitável devido à invasão das tropas russas em território ucraniano.
A guerra na Ucrânia, na verdade, estava sendo preparada – pela OTAN, sobretudo – há pelo menos vinte e cinco anos. Com o colapso da URSS, não se iniciou um período de estabilização democrática na Europa Oriental, mas um período de desordem mundial (1) do qual os Estados Unidos e as potências históricas do imperialismo europeu, Grã-Bretanha e França, às quais a Alemanha se juntou após sua reunificação, tentaram aproveitar para obter uma influência adicional sobre toda a Europa Oriental, da qual a Rússia foi forçada a se retirar (também militarmente), e assim ditar as condições de uma nova ordem mundial na qual a Rússia teria um papel secundário. Mas essa nova ordem mundial, além de ter que lidar com uma potência atômica de primeira grandeza que a Rússia continuava a representar, apesar da crise econômica e política que havia reduzido sua influência mundial, encontrou um obstáculo adicional, em parte imprevisto: o surgimento de outras duas potências imperialistas capazes de influenciar fortemente o mercado mundial, o Japão – que, juntamente com a Alemanha, já estava modificando as relações mundiais de força econômica – e a China, que se perfilava no horizonte como um concorrente mais do que provável e perigoso tanto para os Estados Unidos quanto para as potências europeias. Não se tratava mais apenas das antigas potências imperialistas, entre as quais se destacavam militarmente os Estados Unidos e a Rússia, mas de uma potência econômica e financeira de grande envergadura com a qual a China estava se impondo rapidamente em um mundo que por cem anos havia sido dominado pelos euro-americanos.
Como já mencionamos em artigos anteriores, a Europa está voltando a ser palco de confrontos não apenas entre os imperialismos locais, que precisam enfrentar o imperialismo yankee e o russo, mas também com as interferências das potências econômicas e imperialistas emergentes no mundo, entre as quais se destaca agora a China, seguida, embora à distância, pela Índia, Indonésia e Brasil, que registraram um crescimento vertiginoso do PIB na última década e que, juntamente com o Japão, a Alemanha, o Reino Unido e a França, formarão em 2024 os 10 países mais importantes do mundo. A força econômica de um país sustenta sua força política e militar que, colocada a serviço de uma expansão econômica, comercial e financeira em nível mundial, produz inevitavelmente conflitos crescentes até chegar a conflitos armados.
Bem, a Europa, depois de ter desencadeado guerras de conquista e pilhagem em todo o mundo e de ter estado no centro das duas guerras imperialistas mundiais do século XX, voltou, nos últimos trinta e cinco anos, a estar no centro de uma divisão das áreas de influência imperialista, repletas de fatores de crise e guerras. A dissolução da URSS, antecipada pela «reunificação alemã» (sem derramamento de sangue), produziu uma desestabilização geral de toda a Europa Oriental, a começar pela Iugoslávia – em uma década, de 1991 a 2001, todas as repúblicas que constituíam a República Federal «Socialista» da Iugoslávia tornaram-se Estados independentes, através de guerras ferozes cujas consequências se arrastam até hoje, como demonstra a situação do Kosovo — para continuar, em 1997-1999, na Chechênia, no Cáucaso, no extremo leste europeu, e novamente no Cáucaso, na Geórgia, onde, após múltiplos confrontos armados entre facções rivais de etnia russa e georgiana, em 2008, nas duas regiões disputadas por essas facções (Abkhazia e Ossétia do Sul), eclodiu uma verdadeira guerra entre a Rússia e a Geórgia, na sequência da qual essas duas regiões, ocupadas militarmente pela Rússia, se declararam independentes da Geórgia. Chega 2014 e, como lembramos, é a vez da política das armas na Ucrânia.
UM OLHAR NECESSÁRIO E ÚTIL SOBRE 1989-1991
Na época, com Gorbachev, o Ocidente euro-americano concordou solenemente – em troca da aceitação por parte da Rússia da reunificação das duas Alemanhas sem mover suas tropas, e dos acordos de «paz nuclear» que previam a transferência do nuclear ucraniano para a Rússia e a verificação recíproca com os Estados Unidos dos respectivos arsenais – em não expandir a OTAN nos países do Leste Europeu, ex-satélites de Moscou. Diante do avanço cada vez mais dramático da crise econômica também na Rússia, Gorbachev, eleito secretário do PCUS em 1985, tentou concordar com o odiado-amado Ocidente uma reaproximação econômica-financeira-comercial, lançando mão de uma nova política chamada perestroika (ou seja, uma política de «reformas estruturais» com a qual o regime soviético tentava sair da crise econômica e política, combatendo a corrupção generalizada criada em décadas de poder absoluto do PCUS e ligando-se abertamente ao mercado ocidental e mundial, privatizando muitos setores econômicos estatais e abrindo-os também a investimentos estrangeiros, reduzindo ao mesmo tempo o controle político e militar sobre os países do Leste e negociando com os EUA a contenção de mísseis com ogivas nucleares). Mas esse período de crise, não apenas russa, mas internacional, contribuirá de forma decisiva para a dissolução da URSS e do seu «império». Entre abril e dezembro de 1991, todas as ex-repúblicas soviéticas declararam a sua independência. Com a dissolução da URSS, nasceu a Comunidade de Estados Independentes (CEI) por iniciativa da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, da qual também participaram outras oito repúblicas asiáticas ex-soviéticas (2).
A possibilidade de os Estados da Europa Oriental, uma vez independentes da imperialista Moscou, comercializarem e negociarem com os Estados mais poderosos da Europa e da América, empurrou as ex-repúblicas soviéticas para os braços do imperialismo euro-americano e, portanto, da OTAN e da União Europeia. A mesma Rússia, por outro lado, apesar da crise que reduziu sua influência imperialista, desfrutou de uma longa temporada de negócios, especialmente com os países da Europa Ocidental, graças à sua demanda por matérias-primas (petróleo, gás, trigo, fertilizantes, etc.) e à grande disponibilidade e interesse da Rússia em ampliar suas exportações para um mercado rico e facilmente acessível. Mas o nó constituído pela OTAN e sua progressiva expansão para o leste chegará a um nível de alta criticidade quando o projeto de capturar também a Ucrânia em sua rede se tornar uma possibilidade concreta.
Para demonstrar que os acordos político-militares que as potências capitalistas e imperialistas celebram entre si têm um valor relativo e são violados sempre que os interesses de uma ou outra parte se impõem com forte pressão, basta recordar os acordos sobre o alargamento da OTAN à Europa Oriental, alargamento que, como já foi dito, não deveria ter ocorrido de acordo com os acordos entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, França e Rússia (3), mas que começou a se concretizar a partir de 1999 com a inclusão da Hungria, República Tcheca e Polônia na OTAN, para continuar em 2004 com a Bulgária, os países bálticos, a Romênia e a Eslováquia. A Ucrânia e a Geórgia se candidataram para se tornar membros da União Europeia e da OTAN, mas a guerra da Rússia interrompeu esse processo.
A UCRÂNIA, DE UMA INDEPENDÊNCIA ILUSÓRIA A TERRA DE CONQUISTA
A Ucrânia é um pedaço importante demais tanto para o imperialismo americano quanto para os imperialismos europeus e, sobretudo, para o imperialismo russo, por trás do qual, não se pode excluir, espreita o imperialismo chinês. O fato de a Ucrânia, liderada por governos pró-ocidentais, estar prestes a ser absorvida pela OTAN, além da União Europeia, foi um golpe histórico para a Rússia, que, obviamente, fez de tudo para que isso não acontecesse; primeiro manipulando política e economicamente os movimentos políticos pró-russos, depois ameaçando economicamente a Ucrânia e, finalmente, passando à ação militar com a anexação da Crimeia e o apoio econômico e militar aos separatistas russos do Donbass, culminando com a invasão militar do país.
Esta guerra não poderia ser senão a continuação da política externa tanto da Rússia quanto do Ocidente euro-americano, política que se concentrou na Ucrânia, mas com um horizonte e objetivos que vão muito além das fronteiras geográficas da Ucrânia. É óbvio que as democracias euro-americanas atribuam a responsabilidade pela guerra à Rússia; é óbvio que a Rússia atribua a responsabilidade por esta guerra às democracias euro-americanas que não cumpriram os acordos sancionados em 1989 e aqueles – especificamente relativos à Ucrânia – em Minsk em 2014/15, e à burguesia ucraniana que continuou a oprimir as minorias russofones da Crimeia e do Donbass: toda a burguesia vê na burguesia estrangeira a adversária, atribuindo-lhe a responsabilidade pela agressão e apelando ao seu povo, e sobretudo aos seus proletários, à unidade nacional. São os proletários que são obrigados a ir para a frente de batalha e a derramar o seu sangue. Não é por acaso, aliás, que a reivindicação territorial da Rússia sobre a Crimeia e as regiões de língua russa do Donbass é utilizada pela China para justificar a reivindicação territorial de Taiwan (antiga Formosa), considerada, precisamente, terra habitada desde sempre por chineses.
Com o passar dos meses e anos de guerra, tornou-se cada vez mais claro que a Ucrânia travou uma guerra por procuração, na qual o exército e a população ucranianos foram sacrificados em favor das potências euro-americanas; potências que não tinham qualquer intenção de desencadear uma guerra contra a Rússia nestes anos, porque isso significaria envolver também a China, o que poderia acelerar o desencadeamento de uma guerra mundial para a qual nenhuma potência imperialista estava ainda preparada do ponto de vista do esforço econômico, financeiro, político e militar necessário. Todas, da primeira à última, tinham, porém, interesse em testar no campo de batalha as suas capacidades e as dos adversários para sustentar uma guerra que se apresentará com características muito diferentes e, em parte, desconhecidas em relação às da Segunda Guerra Imperialista Mundial que , em comparação com a primeira, já se diferenciava grandemente em termos quantitativos (pela mobilização de milhões de soldados e meios transportados também a grandes distâncias, garantindo sua eficiência), como qualitativos (não apenas do ponto de vista da qualidade dos armamentos, cada vez mais eficazes e destrutivos, e da transformação da economia nacional de cada um em economia de guerra, mas também do ponto de vista dos serviços de inteligência). Como demonstram os enormes investimentos em tecnologia espacial e de satélites, além dos inevitáveis em termos técnicos em armamentos convencionais, a próxima guerra mundial superará em termos quantitativos e qualitativos as destruições e extermínios que já na segunda guerra imperialista mundial haviam superado amplamente os da primeira guerra mundial. A Primeira Guerra Mundial foi travada na guerra de trincheiras e na ocupação militar física, com centenas de milhares de soldados, dos territórios inimigos, o que, em parte, lembrava as técnicas militares das guerras coloniais. A Segunda Guerra Mundial foi travada com tropas terrestres combinadas estreitamente com a marinha e a aviação militar, visando cada vez mais a destruição de cidades inteiras, atingindo a população civil dos inimigos com as armas mais destrutivas, incluindo a atômica, para aniquilar sua resistência e seu moral e subjugar os «inimigos» à condição de vassalos. A terceira guerra imperialista mundial combinará as técnicas militares da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, ou seja, tanto a guerra de posição e de trincheiras nos territórios que se pretende conquistar e controlar, quanto a guerra contra as populações civis dos Estados inimigos, aumentando geometricamente os genocídios de populações inteiras consideradas um obstáculo aos interesses econômicos e políticos das potências imperialistas dominantes; entretanto, acrescentaram-se o uso de robôs, mísseis e drones manobráveis a grandes distâncias, acompanhados por uma variedade infinita de instrumentos eletrônicos e, ultimamente, pela Inteligência Artificial, como demonstrou a guerra de Israel contra os palestinos de Gaza (4). Se a Primeira Guerra Mundial teve como palco principal e decisivo a Europa continental, a Segunda Guerra Mundial teve como palcos principais toda a Europa, o Norte da África, o Oriente Médio e o Extremo Oriente, o Atlântico e o Pacífico, a Terceira Guerra Mundial terá necessariamente como palco todo o globo terrestre: nenhum Estado, nenhum continente, nenhum mar, nenhum céu será poupado das ações de guerra, nem mesmo os Estados Unidos da América que, até agora, não sofreram os efeitos destrutivos da guerra em seu próprio território, mas sempre os provocaram fora de suas fronteiras.
É o desenvolvimento do capitalismo no imperialismo que determinou e determina os teatros de guerra; a guerra é sempre a continuação da política externa dos Estados feita com meios militares, e é uma consequência inevitável que à política imperialista, cada vez mais voraz por territórios econômicos para dominar e explorar, portanto, para subtrair ao controle de outros Estados, corresponda uma opressão e uma repressão cada vez mais profunda e vasta dos países e das populações que não se submetem ao domínio dos Estados imperialistas mais fortes. A ferocidade com que a guerra é desenvolvida entre os beligerantes, tanto nas frentes de guerra propriamente ditas, como em relação às respectivas populações civis, é diretamente proporcional à necessidade e à capacidade dos beligerantes de aniquilar o inimigo. A diplomacia, dizem os burgueses, no século XX ainda tinha, em parte, um papel antecipatório dos meios de aplainar os conflitos que levavam ao confronto bélico ou que podiam limitar, em parte, a duração e a amplitude do confronto bélico, preparando sua conclusão; na realidade, tornou-se cada vez mais uma arma bruta, um teatro para enganar as populações e, sobretudo, os proletários dos países, envolvidos e não, nos conflitos bélicos.
A União Europeia, a Grã-Bretanha e, por trás delas, os Estados Unidos, têm se empenhado não apenas em atrair a Ucrânia para o campo ocidental e da OTAN, mas também em tirar da Rússia qualquer ambição de recuperar um território que outrora esteve sob seu domínio. O interesse das potências imperialistas euro-americanas no conflito russo-ucraniano nunca foi salvar a democracia. Lançar fumaça nos olhos dos povos é uma arte que as classes dominantes sempre aperfeiçoaram para esconder os verdadeiros objetivos de suas guerras. A Rússia conseguiu colocar as mãos nos países da Europa Oriental, que passaram a fazer parte de seu cinturão de satélites ocidentais, apenas graças à vitória americana na Segunda Guerra Imperialista Mundial e ao subsequente acordo de divisão do controle da Europa entre os EUA e a Rússia, ou seja, entre as duas alianças militares, a OTAN e o Pacto de Varsóvia. Os mais de 20 milhões de soldados russos sacrificados na guerra pelo capitalismo russo e o avanço russo até Berlim permitiram a Stalin sentar-se, juntamente com Roosevelt (e depois Truman) e Churchill (depois Attlee) à mesa dos maiores bandidos imperialistas para dividir o saque; os Estados Unidos acabariam por concordar com a Rússia as novas fronteiras da Polônia e a divisão da Alemanha em duas partes e, incluindo também a França, a divisão de Berlim em quatro zonas. Para a guerra, para a qual todas as grandes potências imperialistas (incluindo o Japão) se prepararam, é sempre necessário que um Estado dê o «primeiro passo», dispare o «primeiro tiro». Mas, para os marxistas, não faz sentido apontar o culpado, justificando assim o agredido em relação ao agressor. A verdadeira causa deve ser buscada no capitalismo, ou seja, no sistema econômico-social-político que domina a sociedade dividida em classes, sistema que gera constantemente os fatores de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, de crise, até as crises gerais e de guerra; no palco da história, os atores não são senão os representantes dos interesses conflitantes das classes dominantes e das classes em luta entre si. Os nomes de Hitler, Stalin, Mussolini, Roosevelt, Truman, Churchill, Attlee, Hirohito e companhia não passaram de nomes de líderes políticos que, naquelas circunstâncias, representavam os interesses profundos e gerais dos respectivos capitalismos nacionais; capitalismos que, na fase imperialista de seu desenvolvimento, levam seus representantes políticos de classe a tomar determinadas direções, a concordar com certas alianças ou a rejeitá-las, ou a permanecer «neutros» em relação ao conflito armado propriamente dito, mas nada neutros em relação aos interesses do capitalismo nacional que representam e que os leva a favorecer um ou outro dos lados beligerantes, sem participar diretamente e, acima de tudo, a fazer negócios com ambos os beligerantes. O mesmo aconteceu e continua a acontecer com os Obama, os Biden, os Trump, as Merkel, as Von der Leyen, as Meloni, os Sarkosy ou os Macron, os Starmer, os Putin e os Xi Jinping dos últimos anos.
Quando é que um Estado imperialista – ou seja, um Estado que está totalmente ao serviço do capitalismo nacional – se dirigiu a outro país com o seu capital e os seus meios militares apenas para o tornar mais independente, mais livre política e economicamente, mais forte em relação ao outro ou aos outros países adversários? O imperialismo não prevê presentes, não prevê atos de generosidade para com outros pólos econômicos, a menos que haja um retorno em termos de vantagens econômicas, comerciais, financeiras, político-militares e territoriais. Nunca devemos esquecer, como lembra Lenin, que a fase imperialista do capitalismo se caracteriza pela fome espasmódica de territórios econômicos, ou seja, de tudo o que pode dar resultados concretos ao capital financeiro investido, sejam indústrias, setores econômicos, terras, minas, jazidas, portos, áreas geográficas ou países inteiros e suas respectivas zonas marítimas.
Após a Segunda Guerra Imperialista Mundial, os Estados burgueses que se autodenominam democráticos perderam completamente a virgindade da democracia clássica, tendo-se transformado em organismos centralizadores a serviço exclusivo dos interesses da grande indústria e dos grandes monopólios, o que desenvolveu enormemente a corrupção, aumentando o processo de putrefação da sociedade. Da democracia de outrora resta apenas o teatro de marionetes penduradas em fios controlados por forças econômico-financeiras que ultrapassam todas as fronteiras; mas é um teatro muito útil para as classes burguesas dominantes enganarem e embobinarem as grandes massas, fazendo-as acreditar que ainda têm uma pequena arma nas mãos com a qual podem defender seus interesses particulares: a cédula eleitoral. Mas basta um indício de crise econômica, uma queda nas vendas, na competitividade, na produtividade para arruinar qualquer promessa eleitoral, não importa quem a tenha feito. O capitalismo é um sistema ditatorial segundo o qual a vida de cada ser humano deve depender do sistema econômico baseado na propriedade privada, no capital e no trabalho assalariado, impondo, em tempos de paz e de guerra, a política de defesa do seu próprio sistema e dos interesses da classe que domina a sociedade. Um domínio que permite à classe dominante empregar enormes recursos econômicos, financeiros e humanos para a propaganda dos “valores” com os quais são revestidos os interesses brutos, cínicos e desumanos de um sistema econômico e social que produz para destruir, que destrói para produzir novamente, em uma espiral infinita na qual as necessidades da humanidade são sacrificadas aos interesses do capital, do mercado e da classe que vive e prospera com esses sacrifícios, com essas destruições, com os abates que estão se tornando a «normalidade» cotidiana.
A experiência política da burguesia, a nível internacional, aconselha cada burguesia nacional a se preparar para a guerra que um dia irá eclodir, porque o mercado, em algum momento, estará tão saturado de mercadorias e capitais que entrará em crise a economia e, consequentemente, os governos de todos os países, de forma mais ou menos aguda; preparar-se para uma guerra que toda a burguesia pode imaginar quando eclodirá, mas não pode saber quanto durará e como terminará, uma vez que os fatores subjetivos e objetivos da guerra podem mudar ao longo da própria guerra. Mas uma coisa é certa e é confirmada pela história do capitalismo: a guerra imperialista nunca decreta o fim do sistema econômico e social capitalista, que não consegue conter seu próprio desenvolvimento, o que o levará à ruptura de todos os equilíbrios econômicos e sociais e a destruições cada vez mais vastas e profundas, gerando, ao mesmo tempo, os fatores objetivos de sua superação, fatores que chamamos de revolucionários porque coincidem com o movimento revolucionário das classes trabalhadoras que constituem o anticorpo social do organismo capitalista putrefato.
E entre esses fatores, o proletariado desempenha um papel decisivo que, como demonstrado durante a Primeira Guerra Mundial, em 1917 na Rússia, pode ser capaz de surpreender todas as chancelarias do mundo com seu movimento revolucionário e sua guerra de classes. Somente se a guerra de classes se sobrepor à guerra entre Estados, então é possível que o movimento revolucionário, em nível internacional, consiga encerrar a longa série de guerras imperialistas. Mas o papel do proletariado é decisivo, mesmo que não entre no terreno da luta de classes e revolucionária, mas de forma totalmente negativa para seus interesses de classe, porque, ao não se opor à guerra burguesa, contribui objetivamente com seu próprio sangue para a guerra que sua própria burguesia nacional desencadeou contra as outras burguesias e, portanto, para a sobrevivência do capitalismo, que é a causa fundamental das desgraças.
O capitalismo não tem coração, não tem sentimentos, exige das classes dominantes burguesas que o defendem e dele dependem que garantam sua sobrevivência às crises geradas pelo seu próprio modo de produção, afetando, de forma cada vez mais profunda e ampla, as necessidades de sobrevivência da população humana; por outro lado, o modo de produção capitalista tornou a produção de mercadorias senhora dos produtores, e os interesses do capitalismo – ou seja, a valorização contínua e sempre crescente do capital através da hiperprodução de mercadorias – como os interesses que se sobrepõem aos da espécie humana, obrigada a fornecer ao capital o trabalho produtivo, o trabalho vivo, também na forma de mercadoria, ou seja, de trabalho assalariado e, em tempos de crise, fornecer ao deus capital a carne para o matadouro, ou seja, os proletários, os produtores de toda a riqueza social. Nenhum Estado burguês, nenhuma burguesia no mundo escapa às leis do capitalismo; e quanto mais se desenvolve o capitalismo monopolista e financeiro, mais aumenta a cinzenta ferocidade burguesa em destruir vidas humanas, meios de produção e meio ambiente. A sede insaciável de lucro não tem outra solução senão a destruição, a fome, o genocídio para superar as crises cada vez mais agudas e vastas do sistema produtivo capitalista que, em geral, se interpretam através da lei histórica descoberta pelo marxismo: a tendência à queda da taxa média de lucro contra a qual a burguesia não tem nenhuma receita curativa.
Voltando à Ucrânia, este país tornou-se, entre muitos outros, também terra de conquista e disputa entre os imperialismos mais importantes do mundo. Quando a burguesia ucraniana afirma que o destino do seu país não diz respeito apenas à Ucrânia, mas a toda a Europa, não está totalmente errada. Não é à toa que quase todos os Estados europeus se sentiram envolvidos na guerra russo-ucraniana, a ponto de apoiar a parte ucraniana com injeções de capital, de armamentos e de apoio político na casa dos bilhões; ao mesmo tempo, aproveitaram a oportunidade para renovar seus arsenais militares, lançar uma vasta campanha de rearmamento, transformando progressivamente suas economias – há muito tempo cambaleantes e incapazes de produzir os lucros esperados – em economias de guerra. Os burgueses sempre veem uma oportunidade de negócio na guerra: ao prepará-la, ao apoiá-la, ao participar dela, ao fazê-la continuar e ao encerrá-la. Como já foi destacado várias vezes, a crise capitalista tende a destruir as forças produtivas que, até seu início, eram estimuladas e pressionadas a produzir quantidades cada vez maiores de mercadorias em uma corrida cega pelo lucro; a crise capitalista é sempre uma crise de superprodução tanto de mercadorias quanto de capitais, e essa superprodução, entupindo os mercados, deve ser eliminada para dar espaço à nova produção de mercadorias e capitais. A guerra, com suas destruições cada vez mais vastas, é o meio que a burguesia usa para superar a crise de superprodução, mas – como diz o Manifesto de 1848 – buscando novos mercados e implementando os antigos mercados com novas «necessidades» criadas pelo comércio e pelos capitais em busca de investimentos, ela apenas produz os futuros fatores de crise, cada vez mais agudos e destrutivos.
Assim, em busca de novos mercados e novas oportunidades de lucro, em um mundo cada vez mais contrastado por potências econômicas que buscam conquistar mercados em detrimento das potências concorrentes, as burguesias imperialistas são obrigadas a agir em prazos cada vez mais curtos, entre uma crise econômica e a seguinte, e com meios cada vez mais poderosos e destrutivos. A Ucrânia e Gaza são dois exemplos dessa tendência. A destruição generalizada de cidades inteiras e de terras cultivadas e cultiváveis, além de tirar a possibilidade de vida das massas que lá viviam e trabalhavam, desmembrando uma parte e forçando as massas que não foram mortas a se deslocarem para algum lugar, criou uma situação em que o setor imobiliário e técnico-industrial pode dar a oportunidade para que capitais que de outra forma estariam condenados à morte sejam investidos com grande lucro; além disso, criou uma situação em que as potências imperialistas mais fortes, no confronto entre seus interesses conflitantes, determinam a supremacia de um ou outro lado, de uma ou outra aliança, estabelecendo assim as bases não apenas para negócios recíprocos, mas também para guerras futuras e, acima de tudo, para uma terceira guerra mundial que se aproxima cada vez mais.
Para que o setor imobiliário e técnico-industrial possa decolar rapidamente nas áreas destruídas pela guerra e substituir o setor de armamentos, é necessário que a guerra guerreada termine ou seja consideravelmente reduzida, talvez transferindo-se para outros teatros – que certamente não faltam, por exemplo, na África, na América Latina, no Oriente Médio e no Extremo Oriente. Entra assim em cena a política da paz imperialista, a política que procura tirar o máximo proveito econômico, financeiro e político da guerra ainda em curso para iniciar o mais rapidamente possível os negócios «da paz». O fato é que os negócios da paz, no modo capitalista, andam de mãos dadas com os negócios da guerra, uns não podem prescindir dos outros, enquanto uns tomam o lugar dos outros em uma zona, em outra zona, em outra área trocam de lugar: é assim que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial imperialista, nunca houve um ano em que não houvesse guerra em algum lugar do mundo (apesar da tão propagandeada paz que as democracias se gabavam de ter conquistado em benefício do mundo sobre as ditaduras nazifascistas), seguida por uma paz, talvez após décadas de guerra, mais como uma trégua do que como ausência de guerra guerreada. Os negócios, tanto destrutivos quanto reconstrutivos, em primeiro lugar!
TODOS PELA GUERRA, ANTES; TODOS PELA PAZ, AGORA?
A Ucrânia, transformada em campo de batalha, com a presidência de Trump assumiu um peso diferente para a facção trumpista da classe dominante americana. Trump quer fazer dela um exemplo de sua «política de paz», da qual se gaba há muito tempo – como, aliás, no caso de Gaza – com a qual quer demonstrar aos gigantes imperialistas americanos que se ganha mais terminando uma guerra iniciada por outros e encontrando um terreno de boas relações, por exemplo, com a Rússia, do que continuando uma guerra que todos os principais especialistas militares consideram vencida pela Rússia. Trump continuou a dizer que esta guerra nem sequer deveria ter começado e que a culpa pelo seu desencadeamento é da Ucrânia de Zelensky, dos europeus que o pressionaram a continuá-la e de Biden, que a apoiou investindo muitos bilhões. Tanto quanto sabemos, Trump nunca fez referência às negociações anteriores, mas rasgou-as para dar livre curso à escalada que ninguém quer alimentar, mas que todos fazem de modo a que aumente. O exemplo mais flagrante é precisamente a situação da guerra na Ucrânia. Desde que Trump acelerou os esforços para encontrar uma saída para esta guerra que fosse vantajosa para os americanos, mas também para os russos – visto que estão a ganhar a guerra – e que não humilhasse excessivamente (nas relações diretas com Putin, a UE já foi posta de lado) os europeus, os imperialistas europeus fizeram de tudo para sabotar o que se tornou o «plano de paz em 28 pontos» proposto pela Casa Branca, mas acordado previamente com os russos. A União Europeia continuou a apoiar a continuação da guerra contra a Rússia (continuando, naturalmente, a enviar os ucranianos para a morte), alardeando a possibilidade de uma contraofensiva ucraniana que poderia, ao contrário da contraofensiva anterior do outono de 2023, graças também à possibilidade de atingir o território russo com mísseis de longo alcance, fazer recuar as tropas russas ou mesmo convencê-las a retirar-se... É evidente para todos que as contraofensivas ucranianas não tinham, ontem, e não têm, hoje, qualquer possibilidade de sucesso, porque, a certa altura, faltam armas, munições e, acima de tudo, soldados. É verdade que a tenacidade com que o exército ucraniano defendeu seu território não permitiu que os russos se espalhassem por toda a Ucrânia, forçando-os a se concentrarem no Donbass; mas também é verdade que, do ponto de vista das forças mobilizadas e do tempo disponível, os russos podem prolongar esta guerra muito mais do que os ucranianos.
Do ponto de vista do apoio financeiro e militar da Europa e dos Estados Unidos à Ucrânia de Zelensky, entre 2024 e 2025, assistiu-se a uma redução, sobretudo por parte da Alemanha e dos Estados Unidos. Para além das declarações oficiais, que normalmente servem para enganar a opinião pública, após mais de três anos de guerra russo-ucraniana, os arsenais europeus esvaziaram-se e, tal como se perfila o futuro próximo – tempestuoso do ponto de vista econômico e político – o rearmamento impôs-se na agenda cotidiana de todas as chancelarias europeias. Um rearmamento não para doar ou vender armas à Ucrânia, mas para reequipar, e com tecnologias mais avançadas, as forças armadas de cada Estado nacional. Além da corrupção que sempre existiu na Ucrânia e que, com a guerra – como, aliás, acontece em toda parte, visto que as possibilidades de controle estão concentradas apenas nas mãos do governo que decreta a lei marcial explodiu, revelando como todas as figuras ligadas ao governo e ao clã de Zelensky estão envolvidas, aumentando a instabilidade governamental de Kiev, os imperialistas europeus se veem obrigados a defender um governo ucraniano que está se desintegrando. Eles levantam seus gritos e intensificam as declarações sobre o perigo, já previsto desde o início da guerra, de que a Rússia, com a vitória na guerra na Ucrânia, se prepare para atacar a Europa, talvez começando pelos países bálticos e pela Polônia...
As relações reais e atuais de força entre as potências imperialistas, e sobretudo entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a União Europeia, a Rússia e a China, dependem da forma como essas potências imperialistas se fortaleceram ou enfraqueceram ao longo dos últimos oitenta anos, ou seja, desde o fim da Segunda Guerra Imperialista. É indiscutível que, para além da recuperação econômica dos capitalismos europeus, devida sobretudo à intervenção dos capitais americanos com os quais Washington subjugou as antigas potências imperialistas europeias a desempenhar um papel secundário no mundo e, em todo caso, de acordo com os interesses predominantes do imperialismo americano; que, além da colonização da Europa pelo dólar americano e do condomínio americano-russo na Europa por 45 anos (de 1945 a 1991), as economias dos países europeus dependem muito mais do mercado americano do que a economia americana depende dos mercados representados pelos países europeus. Toda a questão relacionada com os direitos aduaneiros com os quais a América de Trump deu um abalo considerável aos «aliados» europeus que, além disso, tiveram de suportar sem protestar a obrigação de aumentar consideravelmente os seus investimentos na OTAN (a percentagem do PIB de cada país deve chegar a 5% em poucos anos!), sobretudo num período em que a economia capitalista caminha mais para a estagnação ou recessão do que para o crescimento, indica que a América – ontem de Obama e Biden, hoje de Trump e amanhã de algum outro belicista – está traçando o caminho que a levará à terceira guerra mundial, testando em quais aliados poderá contar com certeza e em quais não, e quais políticas não contingentes adotar para enfrentar amanhã o que poderia se apresentar como o inimigo nº 1, a China. Inimigo no Pacífico, no Oceano Índico, na África e na América Latina e, através da Rússia, na Europa. Portanto, a chamada amizade de Trump com Putin, vendo na Europa um inimigo em potencial (hoje do ponto de vista comercial, amanhã do ponto de vista militar), a Alemanha, deve ser entendida como uma tentativa americana de separar a Rússia da estreita relação com a China, a fim de isolar a China o máximo possível, inclusive territorialmente. Como Roosevelt tentou fazer na época, quando a Rússia de Stalin, às vésperas da Segunda Guerra Mundial imperialista, chegou a um acordo com a Alemanha de Hitler não apenas para dividir a Polônia, mas com a perspectiva de dividir a Europa. A Alemanha de Hitler queria muito mais, conquistar toda a Europa, e para isso precisava atacar não apenas a França e a Inglaterra, mas também a Rússia, tendo a frente do Extremo Oriente «coberta» pelo aliado Japão; não calculou que os Estados Unidos entrariam na guerra ao lado da França e da Inglaterra; o ataque japonês à sua base naval no Havaí foi o pretexto para participar no grande negócio da guerra mundial, do qual uma potência imperialista transbordante como a americana não podia certamente ficar de fora.
Nenhuma base americana na Europa, nem mesmo na Europa Oriental, foi atacada pela Rússia, portanto nenhum país da OTAN foi atacado pela Rússia; esta última teve o cuidado de não cair num jogo do qual sairia com os ossos partidos. Mas a sua reação à tentativa da OTAN, e portanto dos anglo-americanos que a lideram, de se apoderar da Ucrânia deve ser vista também como uma ação defensiva que o imperialismo russo tinha de realizar para demonstrar a si próprio e à sua aliada China que possui a força necessária para impedir o imperialismo ocidental de vencer na Europa e para ser um aliado fiável da China, caso os Estados Unidos, tentasse atacar Pequim.
PAX RUSSO-AMERICANA NO EMARANHAMENTO DE INTERESSES INTERIMPERIALÍSTICOS CONTRÁRIOS
O «plano de paz» em 28 pontos que Trump propôs recentemente como base para as negociações de armistício a serem iniciadas com a Rússia e os europeus, com o objetivo de pôr fim à guerra na Ucrânia, como se sabe, não foi bem recebido pelos europeus (ou seja, Londres, Paris e Berlim), e não apenas porque foram excluídos por Washington, desde o início, de participar das negociações com a Rússia, mas porque esses pontos teriam decretado a irrelevância dos interesses dos imperialistas europeus. Na verdade, os europeus – especialmente o chamado grupo dos «dispostos» – se rebelaram porque seu conteúdo favorece quase exclusivamente os Estados Unidos e a Rússia. Na prática, este «plano» estabeleceria um acordo de não agressão entre a Rússia, a Ucrânia e a Europa, pelo que a Rússia não invadiria os países vizinhos e a OTAN não se expandiria ainda mais; Kiev poderá contar com garantias de segurança baseadas no modelo do artigo 5.º da OTAN, ou seja, no compromisso de intervenção por parte dos signatários euro-americanos deste «plano» caso venha a ser atacada por qualquer outro país; prevê-se também que Kiev se dote de um exército de até 600 mil homens (antes da invasão russa, o exército de Kiev contava com 200 mil homens) e que inclua na sua Constituição a não adesão à OTAN, enquanto a OTAN incluirá no seu estatuto que a Ucrânia não será integrada no futuro, e a Rússia consagrará por lei a sua política de «não agressão». Se a Ucrânia invadisse o território russo ou lançasse mísseis contra ele, perderia essas garantias; se fosse a Rússia a invadir novamente a Ucrânia, sofreria uma resposta militar coordenada e perderia todas as vantagens deste «plano». Prevê-se que não haja tropas dos países da OTAN na Ucrânia, enquanto os caças europeus da OTAN ficarão baseados na Polônia. A adesão da Ucrânia à UE é aceita e, no que diz respeito à reconstrução da Ucrânia, haverá um pacote de medidas que inclui um Fundo de Desenvolvimento e um programa especial do Banco Mundial, enquanto os EUA pretendem ficar com 50% dos lucros obtidos com os ativos russos até agora congelados (no valor de 100 bilhões de dólares), mas para investir na reconstrução. Além disso, Moscou seria reabilitada internacionalmente (revogação de todas as sanções econômicas e sua admissão no G7, que volta a ser G8, com um acordo de cooperação com os EUA), obteria territórios mais amplos do que aqueles que efetivamente ocupou até agora (Crimeia, as regiões inteiras de Luhansk e Donetsk, com congelamento da situação atual ao longo da linha que une Zaporizhzhia e Kherson), retirando-se dos outros territórios ocupados simultaneamente à retirada das forças militares ucranianas dos territórios da região de Donetsk até agora ainda sob seu controle); Moscou e Kiev obteriam anistia total por suas ações durante a guerra, Kiev reutilizaria o rio Dnepr para fins comerciais e obteria acordos de livre transporte de cereais através do Mar Negro. Quanto à questão das armas nucleares, os EUA e a Rússia concordarão com novos tratados de não proliferação e controle nuclear com base no Tratado New Start, que expira em 5 de fevereiro de 2026, enquanto a Ucrânia aceita não ser um Estado dotado de armas nucleares. Zaporizhzhia é a sede da maior central nuclear da Ucrânia, central que ficaria sob a supervisão da AIEA e a eletricidade produzida seria dividida em partes iguais entre a Ucrânia e a Rússia. Os outros pontos tratam da troca de prisioneiros e de cadáveres a serem devolvidos reciprocamente, bem como de programas educacionais recíprocos. Estes são, em resumo, os 28 pontos da pax russo-americana para a Ucrânia.
É evidente que a Ucrânia está sendo humilhada; por outro lado, depois de humilhar a União Europeia, os Estados Unidos e a Rússia poderiam deixar de humilhar a Ucrânia?
A União Europeia, juntamente com a Grã-Bretanha, entrou de fato em guerra, por meio da Ucrânia, contra a Rússia, e seu objetivo era derrotar os russos; esperava-se que essa derrota provocasse uma revolta interna na Rússia contra Putin (dado como morto centenas de vezes e ressuscitado centenas de vezes). Mas a verdade vem à tona: a Rússia está vencendo a guerra, Putin está firme em seu trono, Zelensky está mais instável do que nunca após a ampla operação anticorrupção que atingiu seus amigos mais confiáveis – seu braço direito Yermak e o ministro da Defesa Umerov – enquanto no país cresce o descontentamento e a desconfiança tanto por uma guerra que se apresentava como a solução definitiva dos problemas surgidos com o vizinho russo quanto por um futuro de democracia e bem-estar que a adesão à União Europeia prometia conquistar graças aos... sacrifícios da guerra... Os líderes europeus, de Macron a Starmer, de Merz a Meloni, ao polonês Tusk, de Von der Leyen a Metsola, Kallas e companhia, abraçando as teses belicistas contra a Rússia (antigo «império do Mal», atual ditadura putiniana sedenta de sangue europeu), mas totalmente indiferentes ao destino de milhões de palestinos, periodicamente massacrados por outros belicistas como Netanyahu, apoiado pelo superpacifista de domingo Trump, tentam obviamente sair do atoleiro ucraniano no qual jogaram bilhões em armas e financiamentos por uma causa perdida, e pela qual colocaram sua reputação em jogo. Como as burguesias dos países envolvidos tentarão sair dessa situação? Da guerra «local» à preparação de uma guerra geral, na qual as classes dominantes burguesas passarão dos «planos de paz» aos «planos de guerra».
Assim, como os Estados Unidos não podem deixar de dar alguma satisfação aos seus aliados europeus que, por outro lado, são membros da OTAN, tiveram necessariamente que aceitar discutir o «plano de paz em 28 pontos», do qual os europeus retiraram todos os pontos que davam vantagens à Rússia, e aguardar a resposta da Rússia, que não poderá ser outra senão a continuação da guerra na Ucrânia, afundando ainda mais a Ucrânia em um desastre social. Quanto tempo os soldados ucranianos ainda poderão resistir nesta guerra, sobretudo na falta de soldados e de fornecimentos de armas e munições em quantidade e qualidade adequadas para enfrentar o avanço lento, mas mortal – como se viu nestes dias em Pokrovsk – das tropas russas que, só no mês de novembro, ocuparam 272 km quadrados na zona sul de Zaporizhzhia e quase 200 km quadrados na região centro-oriental de Dnipropetrovsk? Macron realmente acredita que pode enviar alguns milhares de soldados franceses para serem carne para canhão no inverno ucraniano? Merz e Starmer realmente acreditam que, com mais alguns mísseis de longo alcance, Zelenski poderá reverter o rumo da guerra? Nem eles acreditam nisso, mas estão tão entusiasmados com a ideia de que a Rússia aceite negociar o fim da guerra como se fosse ela a derrotada, que avançam com uma proposta em que a Ucrânia deve ser livre de aderir à OTAN, deve ter um exército de 900.000 soldados armados até aos dentes graças à OTAN, não deve reconhecer à Rússia qualquer território ucraniano ocupado pelos russos, enquanto a reconstrução da Ucrânia deve ser feita às custas apenas da Rússia e, então, quando quiser, estabelecer novas eleições. Qualquer pessoa com um mínimo de cérebro ainda funcionando sabe que essa proposta é feita com o único objetivo de boicotar qualquer acordo entre Washington e Moscou e, acima de tudo, para fazer com que a guerra continue por muito tempo ainda às custas dos ucranianos, enquanto, nesse meio tempo, os europeus se rearmam... certamente não para salvar a Ucrânia das garras de Moscou, mas para se preparar para uma guerra que será mundial.
Em essência, esta guerra irá sem dúvida durar ainda muitos meses, provavelmente durante todo o inverno, até que os soldados ucranianos não queiram mais lutar e morrer pela glória de Zelensky e dos seus protetores europeus e as suas famílias não queiram mais morrer de fome e frio num país destruído por uma guerra que certamente a grande maioria deles não queria. O drama dentro do drama é que o proletariado russo, de um lado, e o proletariado ucraniano, do outro, não tiveram força para se opor com sua própria luta a uma guerra desencadeada pelas respectivas burguesias por interesses incompatíveis com os interesses imediatos e históricos da classe proletária. O sangue que corre hoje, como o que correu em todas as guerras anteriores desencadeadas pelas burguesias imperialistas apenas para se apoderarem de territórios econômicos a explorar em benefício do lucro capitalista e para sacrificar ao deus capital milhões de vidas humanas apenas para fazer prevalecer interesses burgueses partidários, clama por vingança, clama por não ter sido derramado em vão, lembrando aos proletários de todo o mundo que, ao trágico presente, apenas a luta de classes proletária pode dar uma resposta, válida para toda a humanidade, com a qual acabar com o sacrifício de milhões de seres humanos ao deus capital: a guerra de classes, declarada abertamente contra as burguesias de todo o mundo, com o objetivo de encerrar definitivamente a era em que o suor e o sangue humanos servem apenas para saciar o capital!
MAS ENQUANTO ISSO, A EUROPA SE REARMAM...
O plano que os imperialistas europeus chamaram de Re-Arm Europe (logo após criá-lo, renomearam-no para Readiness 2030, ou seja, Prontidão 2030, que, como nome, achavam que causaria menos impacto...) prevê um aumento de 800 bilhões de euros no período 2025-2030 nas despesas militares. Os 800 bilhões que a UE disponibiliza aos seus membros para o rearmamento podem causar impacto, mas se pensarmos que só a Alemanha falou de um investimento de 1000 bilhões de 2025 a 2030 apenas para si mesma, para transformar a Bundeswehr no exército mais poderoso da Europa, colocando-a em terceiro lugar mundial em gastos militares, depois dos Estados Unidos e da China, fica claro que não é só a Rússia que está a acelerar os gastos militares. Indiscutivelmente, entre os oito principais grupos mundiais que produzem armamentos, a maior parte é feita pelos grupos industriais dos EUA (Lockheed Martin, RTX, Northrop Grumman e General Dynamics), enquanto os maiores grupos europeus Bae System (Reino Unido), Thales (França), Leonardo (Itália) e Rheinmetall (Alemanha) vêm logo atrás. É óbvio que também no comércio de armas eles figuram nos primeiros lugares, com os grupos dos EUA no topo da classificação (em 2023, venderam 152 bilhões de euros), e os grupos europeus, juntos, faturaram 53,6 bilhões de euros, ou seja, 35% do faturamento americano (5). Não temos em mãos os dados do comércio de armas da China e da Rússia, mas sabe-se que, na classificação global, as empresas americanas estão em primeiro lugar, com cerca de 50% do mercado, as empresas chinesas estão em segundo lugar, com 16%, seguidas pelas do Reino Unido, com 7,5%, e logo abaixo, empatadas, as fabricantes de armas da França e da Rússia, com 4%. É evidente que o rearmamento diz respeito a todas as grandes potências mundiais e não apenas à Europa. De fato, também o Japão começou a reabrir os investimentos na produção de armas, destinando 2% do seu PIB (como atualmente os países da OTAN) ao seu rearmamento, embora atualmente não represente um «concorrente» direto, não digamos dos Estados Unidos, mas nem mesmo da Coreia do Sul. Sabe-se que, para economias avançadas, como a japonesa, não serão necessários muitos anos para atingir um nível de produção militar respeitável, a fim de equipar a sua «defesa»numa área – o Indo-Pacífico – onde se concentram interesses particularmente contraditórios entre a China e os Estados Unidos. E é precisamente por este último motivo que também a Índia, que subiu para o quinto lugar na classificação mundial do PIB, está rapidamente se equipando não só para produzir dentro de suas fronteiras armamentos cada vez mais avançados (no momento, parece ser o maior exportador mundial de munições), mas também para poder competir com os gigantes da exportação de armamentos.
Este enorme impulso à produção e ao comércio de armas por parte das principais potências imperialistas mundiais é um sinal claro, especialmente quando a economia global não está viajando com o vento da expansão a seu favor, de que elas estão se preparando para o confronto bélico, ou seja, para a situação em que a burguesia de cada país terá que destinar recursos cada vez maiores ao rearmamento e menos recursos à previdência social e a todas aquelas medidas inerentes aos amortecedores sociais com os quais, durante oitenta anos, as potências imperialistas controlaram seus proletariados. O controle social da burguesia sobre sua própria população e, em particular, sobre seu próprio proletariado está destinado a aumentar e se endurecer, não apenas porque os tempos da concorrência interimperialista estão se encurtando, mas também porque se espera que, mais cedo ou mais tarde, o proletariado se revolte contra condições de vida e de trabalho cada vez mais intoleráveis. A contrarrevolução que em 1926 conseguiu vencer a revolução não só na Rússia, mas no mundo, tanto na versão stalinista quanto na versão da reação burguesa disfarçada de fascismo ou democracia, continuou por cem anos a esmagar as grandes massas de proletários, camponeses e deserdados do mundo na morsa da fome, da escassez, das guerras, dos chamados desastres ambientais, em um turbilhão incessante de busca frenética pelo lucro. O terreno da contrarrevolução – disse Marx em 1848 – é dialeticamente também o terreno da revolução; mas para que se transforme em terreno da revolução, o proletariado deve reconquistar suas tradições classistas e revolucionárias, deve finalmente romper os laços que o prendem à carroça burguesa, à colaboração de classes, ao interclassismo, aos interesses nacionais que toda burguesia propaga como interesses comuns entre explorados e exploradores. É por essa futura retomada da luta de classes e revolucionária que os comunistas marxistas trabalham, para que, ao primeiro despertar de classe do proletariado, não importa em que país isso aconteça, o proletariado reencontre e reconheça seu partido de classe!
(1) Ver o artigo A nova desordem mundial: da Guerra Fria à paz fria e, em perspectiva, a terceira guerra mundial, “il comunista”, n.º 43-44, outubro de 1994-janeiro de 1995.
(2) A CEI tinha como objetivo criar uma zona de livre comércio entre seus membros, abolindo as taxas de importação aplicadas ao comércio entre seus membros e não aumentando no futuro as taxas de exportação em vigor. Desde dezembro de 1991, além da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, aderiram à organização a Armênia, o Azerbaijão, o Cazaquistão, o Quirguistão, a Moldávia, o Tajiquistão, o Uzbequistão e, como membro associado, o Turcomenistão. A Geórgia, que aderiu em 1993, retirou-se completamente em 2009, na sequência da guerra russa na Ossétia do Sul e das negociações com a OTAN, a Moldávia suspendeu a sua participação em 2022, após a invasão russa da Ucrânia, enquanto a Ucrânia já se tinha retirado oficialmente em 2018.
(3) A este respeito, após anos em que o Ocidente e a OTAN negaram a existência de um acordo pelo qual os países líderes da OTAN – Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Alemanha Ocidental – garantiam à Rússia de Gorbachev que a OTAN não avançaria nem um centímetro para o leste. Nos Arquivos Nacionais Britânicos, em Londres, um politólogo americano, Hoshua Shifrinson, colaborador da revista semanal alemã Der Spiegel, descobriu os documentos – desclassificados em 2017 – que contam a verdadeira história dos acordos entre a OTAN e a Rússia de Gorbachev entre 1990 e 1991, na época da reunificação das duas Alemanhas. Em 1991, com o colapso da URSS, alguns ex-satélites de Moscou, com a Polônia à frente, pediram para entrar na OTAN. Na negociação do grupo conhecido como “4+2” (EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha Ocidental, mais Rússia e Alemanha Oriental), o representante da Alemanha Ocidental disse: “Deixamos claro durante as negociações 2+4 que não pretendemos expandir a Aliança Atlântica para além do rio Oder. Portanto, não podemos permitir que a Polônia ou outras nações da Europa Central e Oriental adiram”. Na mesma reunião, o representante dos Estados Unidos declarou: “Prometemos oficialmente à União Soviética nas negociações 2+4, bem como em outros contatos bilaterais entre Washington e Moscou, que não pretendemos explorar estrategicamente a retirada das tropas soviéticas da Europa Centro-Oriental e que a OTAN não deverá se expandir além das fronteiras da nova Alemanha [reunificada], nem formal nem informalmente”. Vimos o que aconteceu com essas garantias... Ver https://www.startmag.it/mondo/nato-est/, 26 de fevereiro de 2022.
(4) Ver o artigo Gaza, parquinho mortal da inteligência artificial, “il comunista”, n.º 180, dezembro de 2023-fevereiro de 2024.
(5) Ver https://sbilanciamoci.info/rearm-europe-tante-armi-poca-ricerca/
2 de dezembro de 2025
Partido Comunista Internacional
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